terça-feira, 31 de maio de 2016

Fantástico revelou áudios em que Fabiano orienta investigados.Segundo delator, ele reclamou da Lava Jato e da Justiça.


Edição do dia 30/05/2016
30/05/2016 21h15 - Atualizado em 30/05/2016 21h15

Ministro da Transparência pede demissão após gravações

Fantástico revelou áudios em que Fabiano orienta investigados.
Segundo delator, ele reclamou da Lava Jato e da Justiça.

Fabiano Silveira não é mais o ministro da Transparência. Ele entregou a carta de demissão ao presidente em exercício Michel Temer na noite desta segunda-feira (30), depois de passar o dia inteiro sob artilharia de parlamentares e de funcionários e chefes regionais do ministério.

O Fantástico de domingo (29) revelou gravações em que Fabiano orientava investigados da Lava Jato, antes de ser ministro. E, segundo as palavras de um delator, trocou com ele reclamações contra a operação e a Justiça.
O protesto começou cedinho. Na porta da extinta Controladoria Geral da União, agora Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle. Servidores cantaram o Hino Nacional.

Impediram a entrada do carro do ministro, ele não estava dentro. Lavaram a calçada do prédio. Jogaram água também no corredor que leva ao gabinete do ministro. Exigiam a imediata exoneração de Fabiano Silveira, por causa da gravação divulgada no domingo (29) pelo Fantástico.
“Nós não vamos aceitar alguém envolvido com a Operação Lava Jato, inclusive buscando informações privilegiadas junto a autoridades e a órgãos públicos para livrar políticos que estão altamente comprometidos e vamos ficar nesse protesto até que o governo interino dispense de suas funções o sr. Fabiano Silveira”, disse Rudnei Marques, presidente do Sindicato dos Servidores da CGU.

O áudio foi gravado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Durante as tratativas de um acordo de delação premiada, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado contou que no dia 24 de fevereiro foi à casa de Renan Calheiros para conversar, entre outras coisas, sobre "as providências e ações que ele estava pensando acerca da Operação Lava Jato".
E disse que participaram dessa conversa dois advogados de Renan, um de nome Bruno e outro, Fabiano. Sérgio Machado disse: "No início, relatei aos advogados sobre o que ocorreu em minha busca e apreensão".  E, na revelação mais importante, Sérgio Machado disse: "Trocamos reclamações gerais sobre a Justiça e sobre a Lava Jato".
Participam da reunião, além de Sérgio Machado e Renan Calheiros, presidente do Senado, Bruno Mendes, um advogado, ex-assessor de Renan, e Fabiano Silveira. Ou seja, o atual ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, encarregado de combater a corrupção no governo federal, participou de uma conversa em que, segundo Sérgio Machado disse aos investigadores, foram feitas críticas à Lava Jato e à Justiça. Além disso, é possível entender que Fabiano orienta Renan e Sérgio Machado a como se comportar em relação à PGR, a Procuradoria-Geral da República.

A conversa ocorreu cerca de três meses antes de Fabiano assumir o cargo. A TV Globo pediu ao professor da Unicamp, o perito Ricardo Molina, que também analisasse a gravação. Ele disse que, "acima de qualquer dúvida razoável" a voz é de Fabiano Silveira.
Renan diz a Fabiano que está preocupado com um dos inquéritos a que responde no Supremo. O que investiga se o presidente do Senado e Sérgio Machado, entre outros agentes públicos, receberam propina - em forma de doações eleitorais - para facilitar a vitória de um consórcio de empresas em uma licitação para renovar a frota da Transpetro.
Outros dois delatores da Lava Jato, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, citaram o negócio em depoimento. A campanha de Renan teria sido contemplada com duas doações no valor total de R$ 400 mil. Renan diz a Fabiano, sem entrar em detalhes, que está preocupado com um recibo. Machado diz que ele foi incluído num processo de R$ 800 mil. Uma voz que não é possível identificar pergunta se foi Youssef quem disse que o dinheiro foi para Renan. Machado diz que não.

Renan: Cuidado, Fabiano! Esse negócio do recibo, isso me preocupa pra c******.
Sérgio Machado: Eles me botaram num processo lá de 800 mil que o Youssef tinha dito que era pra... (inaudível) estaleiro. Que eles tão de acordo se tem certeza que era pra você (inaudível).
(Voz não identificada): Yousseff disse?
Sérgio Machado: Não. Da conclusão eles entendem que... (inaudível)
Nesse momento, Fabiano discute com eles a estratégia de defesa de Machado e Renan nesse caso. Fabiano aconselha Renan. Aparentemente, que ele não deve entregar uma versão dos fatos, pois isso daria à procuradoria condições de rebater detalhes da defesa.
Fabiano: A única ressalva que eu faria é a seguinte: tá entregando já a sua versão pros caras da... PGR, né.  Entendeu? Presidente, porque tem uns detalhes aqui que eles... (inaudível) Eles não terão condição, mas quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que colocou. 
Mais à frente, Fabiano chega a fazer críticas à condução da investigação pela procuradoria. Diz que Janot e os procuradores estão perdidos.
Sérgio Machado: Diz que o Janot não sabe nada. O Janot só faz... (inaudível) cada processo tem um procurador.
Fabiano: Eles estão perdidos nesta questão.
Sérgio Machado: A última informação que vocês têm, não tem nada, não apuraram nada até hoje, é isso?
Fabiano: Não.
(Voz não identificada): É a última informação, né? (inaudível).  Eles, desde o início, Sérgio, eles estão jogando verde para colher maduro. O cara fala: 'Eu não conheço o Renan'... (inaudível).
Fabiano: Eles foram lá buscar o limão e saiu uma limonada.
Em outra conversa, no dia 11 de março, sem a presença de Fabiano, Renan e Sérgio Machado comentam a atuação do atual ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, que teria ido falar com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, depois da reunião que tiveram no dia 24 de fevereiro.
A TV Globo apurou que Fabiano procurou diversas vezes integrantes da força-tarefa da Lava Jato para tentar informações de inquéritos contra Renan, e saía de lá com evasivas, que eram comemoradas por Renan. Nesta conversa, Renan disse que alguém na procuradoria nada tinha achado contra ele e que tinha classificado o presidente do Senado de gênio.
Renan: Ele disse ao Fabiano: 'Ó, o Renan... Se o Renan tiver feito alguma coisa que eu não sei... Mas esse cara, p****, é um gênio', usou essa expressão. 'Porque nós não achamos nada'.
Sérgio Machado: Já procuraram tudo.
Renan: Tudo
O ministro Fabiano Silveira nem esperou a divulgação dos áudios. Logo que soube, no domingo mesmo, foi ao encontro do presidente Michel Temer, no Jaburu, e lá assistiu à reportagem do Fantástico. Também estava presente o secretário-executivo do programa de parceria de investimentos, Moreira Franco. Juntos, eles entenderam que apesar de, nas tratativas da delação, Sérgio Machado afirmar que houve troca de reclamações contra a Justiça e a Operação Lava Jato, apesar de todo o conteúdo comprometedor do áudio, a conversa não mostraria uma conspiração contra a Lava Jato.
Michel Temer passou o dia avaliando o tamanho do estrago. Teve longas conversas com os principais conselheiros: o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha; o secretário-geral, Geddel Vieira Lima; e de novo Moreira Franco.
Fabiano Silveira virou ministro por indicação do presidente do Senado, a casa onde está agora o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, e que precisará aprovar as medidas na área da economia propostas por Temer.
Os parlamentares da base e da oposição defenderam a demissão do ministro.
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