segunda-feira, 25 de abril de 2016

UFPB DESENVOLVE MEDICAMENTO PARA HIPERTENSÃO

Francisco França
Professor e pesquisador Valdir de Andrade Braga explica que a ideia é desenvolver drogas que atuam no sistema cardiovascular, renal e nervoso para que conjuntamente reduza a pressão arterial
Molécula isolada do refino do petróleo pode ser a próxima arma no combate à hipertensão, doença silenciosa que mata uma pessoa a cada dois minutos no Brasil. O Departamento de Biotecnologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) firmou parceria com a Universidade de Uppsala e o Instituto Karolinska, ambos da Suécia, para desenvolver um medicamento de baixo custo e que previne a tolerância farmacológica – necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito.
A parceria teve início em 2014 e o projeto tem duração prevista de quatro anos.
 
De acordo com o professor e pesquisador Valdir de Andrade Braga, a ideia é desenvolver drogas que atuam no sistema cardiovascular, renal e nervoso para que conjuntamente reduza a pressão arterial. Até agora, os resultados foram bem recebidos. 
 
O medicamento, chamado NDBP, funciona como um doador de óxido nítrico –  molécula que causa relaxamento dos vasos e reduz a pressão arterial. “O diferencial do nosso novo nitrato aos existentes e disponíveis no mercado é que ele não causa o fenômeno de tolerância, ou seja, o organismo não se adapta ao medicamento”, conta. A droga já foi patenteada e deverá ser comercializada dentro de dois anos.
 
O NDBP é extraído da glicerina, um subproduto da indústria alcooleira e petrolífera. “Seu custo é extremamente baixo quando comparado a outros medicamentos”, explica o pesquisador. O baixo custo de fabricação também deve beneficiar os pacientes, que poderão obter um medicamento desenvolvido na Paraíba a um preço inferior, ao invés de adquirir drogas importadas.
 
Não são todas as drogas que provocam tolerância. A principal substância que apresenta esse efeito é o bloqueador alfadrenérgico, que interrompe a ação do corpo humano sobre a pressão arterial e normalmente é indicado para quem sofre . “O efeito dos medicamentos em geral permanece o mesmo ao longo do tempo. Mas alguns pacientes com hipertensão severa precisam de mais medicamentos, dois, três até quatro, para alcançar a meta da pressão arterial ideal”, comenta o cardiologista Newton Rodrigues.
 
O pesquisador Valdir Braga comemora os primeiros resultados, apesar de os estudos ainda estarem na fase experimental, desenvolvidos apenas em cobaias de laboratório. “Os resultados são promissores de modo que o tratamento com o NDBP por 15 dias foi capaz de reduzir a pressão arterial de ratos hipertensos”, conta. A droga tem ação hipotensora. Esse tipo de medicamento, segundo Newton Rodrigues, geralmente é receitado em casos avançados da doença.
 
Braga afirma que a fase de testes em humanos deve começar em breve. “Após a conclusão dos ensaios pré-clínicos, realizaremos os estudos clínicos em pacientes. Acreditamos que em dois anos já possamos ter este produto no mercado certificado pela ANVISA”, explica. A equipe brasileira da pesquisa já foi em uma missão à Suécia e obteve avanços na caracterização dos mecanismos envolvidos nos efeitos hipotensores do NDBP. Em outras palavras, a ação da substância do organismo já é conhecida e pode ser controlada.
 
Mortes por hipertensão
 
 
No mundo inteiro, estima-se que 17 milhões de pessoas morram de complicações decorrentes da hipertensão todos os anos. O número aumentou 13,2% entre 2001 e 2011 em 190 países, incluindo o Brasil, segundo dados da American Heart Association (AHA). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Hipertensão estima que uma em cada três pessoas sofre da doença – muitas não sabem, já que os sintomas só aparecem quando a doença encontra-se em estágio avançado. 
 
A hipertensão arterial é uma das principais causas de mortes por derrames e infartos. Os sintomas em geral não alarmam as pessoas e também podem ser associados a uma crise de ansiedade: falta de ar, dor de cabeça, irritabilidade e insônia estão entre os principais. Mas não são apenas os sintomas que devem deixar as pessoas em alerta: a principal causa de hipertensão é a hereditariedade. Ou seja, se alguém tem histórico familiar de hipertensão, deve realizar acompanhamento médico constante.
 
“Filhos de pacientes hipertensos têm mais chances de desenvolverem a doença. O outro aspecto é a idade, pois o problema aparece geralmente por volta da menopausa e, no homem, próximo aos 45 anos”, relata o cardiologista Newton Rodrigues. Outros fatores incluem o peso – quanto mais pesada a pessoa, mais chances ela tem de desenvolver o problema –, sedentarismo, alimentação com excesso de sal e estresse.
 
“A hipertensão é uma doença que costuma ser silenciosa, com pouco ou nenhum sintoma, que leva a outras doenças graves e, até mesmo, fatais”, lembra o médico. Entre as doenças mais perigosas desencadeadas pela hipertensão estão o Acidente Vascular Cerebral (AVC), o infarto agudo do miocárdio e a insuficiência renal crônica. 
 
Para Newton, a conscientização do paciente é vital no tratamento e controle da doença. “O hipertenso precisa saber que a doença não tem cura, mas tem tratamento e controle. É preciso tomar o remédio todos os dias, independente de ir a uma festa ou ao médico, pois um dia sem a medicação pode ser perigoso e quanto maior o cuidado, menor o risco do paciente ter um AVC ou derrame”, considera.
 
Programa de medicamentos gratuitos do MS
 
 
Desde 2011, o Governo Federal mantém o programa Saúde não tem preço, que prevê a distribuição gratuita de medicamentos contra hipertensão e diabetes em farmácias populares. Para adquirir os remédios, é necessário comparecer a uma farmácia credenciada no programa “Aqui tem Farmácia Popular” em posse de CPF, receita médica válida e documento com foto. O programa conta com 30.400 unidades de distribuição pelo Brasil.

Blog/face

Nenhum comentário: